Resumos
O tempo e a história do niilismo em Nietzsche
Prof. Dr. Clademir Araldi (GEN/UFPel)
A construção da história do niilismo é uma resposta significativa de Nietzsche ao problema do tempo. Nietzsche não propõe superar as injunções modernas do tempo histórico a partir da História, mas desde uma perspectiva extemporânea, a saber, de uma concepção de eternidade como tempo infinito. Analisaremos como a radicalização da experiência histórica moderna do niilismo é um empecilho para a afirmação do pensamento do eterno retorno do mesmo.
Nietzsche e o Eterno Retorno como Lebensfülle (Plenitude Vital). Como pensar o tempo para além do próprio tempo.
Prof. Dr. Adilson Felicio Feiler (Unisinos)
Apresentamos como o conceito de Eterno Retorno, de Nietzsche, proclamado apenas mediante o Zaratustra, já possui vestígios claros mediante o conceito de Plenitude Vital (Lebensfülle), anunciado por Nietzsche na Gaia Ciência. Através deste conceito de Plenitude Vital, Nietzsche pretende acentuar o aspecto pleno que a vida, tomada em sua concepção mais genuína, possui. Portanto, a vida é um fato que se assume com alegria e júbilo, sendo pois ela é a única realidade efetivamente existente. Nela não há começo nem fim, mas um eterno recomeçar, num processo marcado pelo destruir para construir. É neste aspecto pleno, sem começo nem fim, alegre e jubiloso, que está o fato mais evidente, que Nietzsche aponta para se pensar a temporalidade, uma realidade que vem a se consagrar em sua clássica doutrina do Eterno Retorno. Dada a instantaneidade plena da vida, instaurada pelo retorno, como é possível justificar a dor, a morte e o sofrimento na modernidade ocidental?
O eterno retorno do mesmo e a subversão da noção de fatalismo.
Prof. Dr. João Evangelista Tude de Melo Neto (GEN/Unicap)
Tradicionalmente, o fatalismo é compreendido como uma doutrina que ensina a necessidade inevitável do cumprimento do fado (ou destino). Isto é, o ensinamento do fatalismo professaria que todos os acontecimentos já estão, de antemão, irremediavelmente fixados pelo destino. Nesse contexto, a ação humana, apesar de consistir numa espécie de força de oposição ao destino, sempre é vencida e anulada por este. Essa noção de fatalismo não é, todavia, corroborada por Nietzsche. Ao contrário, é como alvo de críticas que ela, geralmente, aparece em seus textos. O autor, todavia, não abandona o termo, mas passa a compreendê-lo num sentido subvertido. Levando isso em conta, os objetivos de nosso trabalho consistem em: 1) examinar de que forma Nietzsche compreende o termo 'fatalismo' em alguns momentos de sua obra; 2) tentar mostrar que as acepções de fatalismo nesses diferentes momentos possuem certa correspondência e coerência conceitual; 3) tentar entender a doutrina do eterno retorno do mesmo como paradigma cosmológico em que a noção nietzschiana de fatalismo aparece em sua fase de acabamento.
Nietzsche e o transhumanismo: uma impossibilidade ético-conceitual
Profa. Dra. Luciana Zaterka (UFABC)
O desejo humano de alcançar a longevidade e, quiçá, a imortalidade é tão antigo como o próprio homem. Do ponto de vista histórico-filosófico tal desejo é discutido inicialmente, no que concerne à sua viabilidade técnica e, portanto, prática, a partir da modernidade. Pelas linhas do Novum Organum, da New Atlantis e da Historia Vitae et Mortis, podemos observar como F. Bacon, ao manusear uma complexa teoria da matéria, propõe uma técnica para o prolongamento efetivo da vida. A partir daí observarmos a relação constitutiva entre ciência e técnica, a ponto de o próprio corpo humano se tornar um objeto técnico, de maneira que a espécie humana estaria pronta para transcender-se. Na contemporaneidade, existem correntes de pensamento que definem o transhumano como a superação dos supostos limites impostos ao homem pela natureza, contando, para isso, com os potenciais tecnológicos, tais como, a engenharia genética, a biologia molecular, a biotecnologia, a neurofarmacologia, a nanotecnologia, etc. Alguns pensadores contemporâneos, enxergam os conceitos nietzschianos Wille zur Mach e Übermensch a base mesma para esse ideal transhumano. Em contraposição a essa perspectiva consideramos o transhumanismo, no limite, mais uma expressão do ideal ascético tão criticado por Nietzsche. Veremos, por meio do conceito de amor fati, a incompatibilidade ético conceitual entre a filosofia do autor do Zaratustra e o movimento transhumanista. Aqui será importante analisar o que Nietzsche compreende por eternidade em oposição à temporalidade subjacente ao projeto científico-moderno. Assim, veremos que esse ideal valorativo ascético da tradição filosófica é reafirmado hoje pelo transhumanismo. Segundo Nietzsche, desejar a imortalidade é desejar o impossível, ou seja, é o contrário de amar a vida, isto é, viver o instante.
A liberdade em Nietzsche, o eterno retorno e as configurações do tempo
Profa. Ma. Alianna Caroline Sousa (GEN/UFPel)
Nietzsche concebe o mundo como uma totalidade de forças e pensa o homem como parte integrante do mundo. Este estudo tem como propósito abordar brevemente a ideia concebida a partir de que maneira a doutrina do eterno retorno do mesmo se relaciona com a noção nietzschiana de liberdade com base em sua perspectiva fisiológica. O principal foco de discussão é a existência ou não de liberdade e a influência ou não de circunstâncias biológicas que possam condicionar o comportamento humano enquanto necessário e de que modo é possível pensar no eterno retorno do mesmo em relação à liberdade a partir de perspectivas fisio(psico)lógicas. Nesse sentido, dividimos o trabalho em duas partes. A primeira parte apresenta a noção de liberdade sob a ótica da fisiologia do corpo orgânico como guia para verificar a origem dos sentimentos e valores morais, bem como, como fio condutor da teoria nietzschiana da interpretação, sobretudo, de sua psicologia da cultura moderna. Retratamos, pois, o âmbito “psicológico” da existência humana assimilado pela compreensão do valor da vida pelo viés fisiológico, tornando-se possível falarmos de uma “psicofisiologia” ou de uma “fisiopsicologia” em Nietzsche. A segunda parte deste estudo cuida de analisar a doutrina do eterno retorno pelo viés cosmológico como possibilidade de pensar a eternidade temporal de modo a abrir espaço (condições) para criar novos valores, a partir do quadro determinista. Por fim, objetivamos pensar a questão da liberdade e da necessidade sob uma ótica da temporalidade e do sentindo de ambos para o homem, propondo uma interpretação não linear do tempo em que delineia-se o critério básico para uma nova moral na qual liberdade e necessidade não estariam em conflito possibilitando a transvaloração de todos os valores.
A longa história do encontro entre Nietzsche e D. Pedro II
Prof. Me. Geraldo Dias (GEN/Unifesp)
A história do encontro entre Nietzsche e Dom Pedro II, outrora anedoticamente difundida por Elisabeth Förster-Nietzsche, tem sido, ao longo de mais de um século, alimentada pela nossa historiografia (por historiadores como Oliveira Lima e José Murilo de Carvalho), pela crítica literária (seja pelo modernista Alceu Amoroso Lima e o simbolista Tristão da Cunha) e a imprensa diária e periódica, nacional e estrangeira. Nesta comunicação, conto avaliar as versões dessa história por meio do confronto com a obra publicada (e em particular com a correspondência) de Nietzsche. Assim, de início, examino as versões produzidas; em seguida, confronto os dados (informações como data, local, circunstâncias) das versões com os dados fornecidos pelo filósofo quando menciona o Brasil e D. Pedro II; por fim, procuro perscrutar as causas e as consequências políticas dessa longa história para a recepção brasileira do pensamento nietzschiano.
O vir-a-ser da linguagem como elemento da crítica nietzschiana à metafísica e à cultura moderna
Prof. Me. Gabriel Herkenhoff Coelho Moura (UFPR)
Desde os cursos ministrados como professor da Universidade da Basileia, Nietzsche apresenta um grande interesse pela questão da linguagem, tematizando sua origem e seu caráter de coisa humana. E, apesar das mudanças de trajetória características de um pensamento assistemático, essas duas temáticas atravessam seu pensamento possuindo um papel importante nas críticas à metafísica e à cultura moderna – sobretudo, a partir de Humano, demasiado humano. O objetivo deste trabalho é, então, discutir como a tomada da linguagem em seu vir-a-ser pode ser vista como uma constante no interior da filosofia nietzschiana e pensar seu desenrolar no caminho de pensamento do filósofo. Para tanto, partiremos de sua crítica negativa à linguagem – na recusa de uma “semântica essencial” e na afirmação da influência de “seduções da gramática” sobre a metafísica – para alcançar seu aspecto positivo, em dois pontos: na ideia de sintomatologia e na elaboração de uma arte do estilo. Pretendemos, assim, defender a hipótese de que a assunção de uma positividade na linguagem – possibilidade aberta já no movimento crítico – apresenta-se como elemento fundamental para sua tarefa de transformação da cultura.
Nietzsche, Pascal et le suicide du sens historique
Profa. Ma. Lucie Lebreton (Université de Reims-Champagne-Ardenne)
Nous prendrons pour point de départ le fragment posthume d’Aurore 7 [254], où Nietzsche reproche à Pascal son manque de sens historique. Celui-ci, d’après lui, ne pense que « l’individu isolé » et « jamais ce qui devient », parce qu’il ne parvient pas à envisager l’action humaine autrement que dans la perspective individuelle du salut. Ce reproche, toutefois, peut surprendre, quand on sait que Pascal est aussi un très grand penseur de la coutume, donc de ces habitudes collectives qui forgent au fil du temps la diversité des peuples. C’est pourquoi nous tenterons, dans un premier temps, de montrer que Nietzsche a trouvé, à l’époque d’Humain trop humain notamment, dans les analyses pascaliennes sur l’origine des croyances une abondante source d’inspiration. Dans un deuxième temps, nous tenterons d’expliquer ce qui justifie cependant ce jugement de Nietzsche à l’époque d’Aurore : le raisonnement de type historique que Pascal savait si bien mener, sa foi chrétienne, au fond, le lui interdisait. Dans une troisième partie, enfin, nous verrons ce que Pascal – tiraillé entre son sens aigu de l’histoire et sa foi chrétienne – fera de cette « terrible tension ». Nous montrerons que ce que Nietzsche décèle dans les Pensées n’est rien moins qu’un suicide du sens historique.
(Nosso ponto de partida será o fragmento póstumo de Aurora 7 [254], em que Nietzsche reprova Pascal por sua falta de sentido histórico. Segundo ele, ele pensa apenas "o indivíduo isolado" e "nunca o que vem-a-ser", porque ele não consegue imaginar ações humanas diferente da perspectiva individual da salvação. Essa reprovação, no entanto, pode ser uma surpresa quando se sabe que Pascal é também um grande pensador do costume e, portanto, daqueles hábitos coletivos que forjam a diversidade dos povos ao longo do tempo. Por esta razão, devemos primeiro tentar mostrar que Nietzsche encontrou nas análises pascalianas da origem das crenças uma fonte abundante de inspiração, nomeadamente na época de Humano demasiado humano. Em um segundo passo, tentaremos explicar o que justifica o julgamento de Nietzsche no tempo de Aurora: o raciocínio histórico, que Pascal sabia tão bem conduzir, sua fé cristã, no fundo, o proibia. Em uma terceira parte, veremos o que Pascal - dividido entre o seu agudo sentido da história e a sua fé cristã - fará dessa "terrível tensão". Devemos mostrar que o que Nietzsche detecta nos Pensamentos é nada menos que um suicídio do sentido histórico).
A genealogia como prática terapêutica
Profa. Dra. Marta Faustino (Universidade Nova de Lisboa)
A genealogia é, sem dúvida, um dos traços mais característicos da filosofia de Nietzsche, sendo talvez também o procedimento a que Nietzsche mais reconheceu valor e importância como condição de possibilidade do cumprimento do seu projecto filosófico. Nesta apresentação procurarei determinar as características fundamentais deste método tal como praticado por Nietzsche, em particular, enquanto "médico da cultura". Procurarei, assim, por um lado, caracterizar a genealogia nietzschiana tão detalhadamente quanto possível, procurando determinar em que medida ela determina um modo de filosofar próprio e de que forma ela se distingue de outras ciências análogas, como a história. Por outro lado, procurarei salientar a importância deste método para a prática filosófica de Nietzsche, concentrando-me, muito em particular, no seu papel enquanto ferramenta daquilo a que podemos chamar a terapia nietzschiana da cultura.
Nietzsche (1944): a posição dos intelectuais brasileiros no centenário do filósofo alemão
Prof. Dr. Luís Eduardo Rubira (GEN/UFPel)
Quando Mário Ferreira dos Santos publicou sua tradução de “A vontade de potência” pela Editora do Globo em 1945, havia já uma ampla discussão em torno do pensamento de Nietzsche no Brasil. Recepção que teve início no final do século XIX e foi intensificada entre 1933 e 1943, ou seja, no período compreendido entre a ascensão do nacional-socialismo e o Grande Reich Alemão (tal como mostramos em artigo recente), é no ano de comemoração do centenário de nascimento de Nietzsche que muitos intelectuais no Brasil, entre os quais Florestan Fernandes e Otto Maria Carpeaux, saem em defesa do filósofo. A presente pesquisa visa, assim, reconstruir este debate e pensar a tradução de Mário Ferreira dos Santos como o coroamento da recepção de Nietzsche no país.
Vida, natureza e cultura: Nietzsche e a biopolítica na interpretação de Roberto Esposito
Prof. Dr. Ernani Chaves (UFPA)
O conceito de biopolítica tornou-se o mais importante no interior da Filosofia Política atual. O ponto de partida da discussão é o célebre capítulo final do primeiro volume da 'História da sexualidade' (1976), de Michel Foucault. A retomada e a utilização desse conceito por Giorgio Agamben, no primeiro volume do 'Homo sacer' (1993) tornou-o um operador fundamental para as discussões contemporâneas. Entretanto, o lugar e o papel de Nietzsche nessa discussão foi quase ignorado totalmente por Agamben. Coube a outro grande pensador italiano contemporâneo, Roberto Esposito, em especial em seu livro 'Bios: Biopolítica e Filosofia' (2004), assinalar com rara precisão o papel da filosofia de Nietzsche nas questões, às quais o conceito de biopolítica remete. Pretendo mostrar os aspectos fundamentais da interpretação de Esposito, assinalando em especial o modo pelo qual ele entende o conceito nietzschiano de 'vida' e suas implicações nas relações entre natureza e história. Com isso, entender a consequência central do argumento de Esposito, qual seja, a de que uma certa direção do conceito nietzschiano de vida torna possível uma concepção afirmativa de biopolítica, para além das posições de Foucault e Agamben.
Kant, Nietzsche e Foucault e o tempo atual da subjetividade
Prof. Dr. Carlos Eduardo Ribeiro (UFABC)
Tempo e subjetividade é um dos possíveis pontos de encontros entre Kant, Nietzsche e Foucault, filósofos cujas abordagens a respeito do sujeito recorrem, cada um a seu modo, a uma definição de tempo. Partindo das análises de Foucault em O que são as Luzes bem como em Nietzsche, a genealogia, a história tratarei de investigar a ideia de tempo atual da subjetividade como operador possível para estabelecer uma reflexão sobre o binômio Poder-Liberdade.
As noções de história na II Consideração Extemporânea e em Humano, demasiado humano
Prof. Dr. Wilson Antonio Frezzatti Jr. (GEN/Unioeste)
Quando abordamos a noção de história no pensamento nietzschiano, dois textos são incontornáveis: a II Consideração extemporânea (1874) e Humano, demasiado humano (1878). Embora nos dois textos o caráter histórico esteja associado à vida entendida como força criativa e, de alguma forma, à ciência, queremos mostrar que há grandes diferenças na utilidade da história que Nietzsche propõe nesses dois momentos. Na II Consideração extemporânea, o filósofo alemão pretende substituir a ciência histórica hegeliana por três outros tipos de ciência histórica, cada uma adequada a uma determinada circunstância da cultura. Em Humano, demasiado humano I, não temos uma ciência histórica, mas uma filosofia com sentido histórico, e acreditamos que ação da história nessa obra é mais radical do que na primeira, tanto na tentativa de superação da metafísica quanto na relação com a vida.
Causa, forças e imagens do tempo em Nietzsche
Prof. Dr. Angelo Marinucci (Universitá di Pisa/PNPD/UFPel)
Através da elaboração do eterno retorno, Nietzsche opõe à imagem linear do tempo uma circular. Á nova imagem do tempo estão ligados elementos científicos e elementos de crítica à moral. Em particular, podemos afirmar que o eterno retorno tem uma explicação científica e um sentido ético. Neste sentido, para poder entender esta oposição entre tempo linear e tempo circular, assim como o que o pensamento do eterno retorno envolve, aprofundaremos a crítica à relação ente causa e efeito, a ideia de acumulação de força e de descarga que estão à base do tempo circular, para, emfim, chegar à questão ética. O objetivo desta apresentação é, justamente, o de salientar esta oposição.
Genealogia de si e autoencenação filosófica do "Senhor Nietzsche"
Prof. Dr. Antonio Edmilson Paschoal (UFPR)
O objetivo desta exposição é reunir alguns pressupostos para uma leitura da obra tardia de Nietzsche, Ecce homo, que permita tomar a narrativa feita pelo "Senhor Nietzsche" como uma experiência filosófica em que a contraposição à metafísica se faz por meio de um jogo entre o ser e o tornar-se o que se é. Diante desse objetivo, porquanto, serão retomados alguns aspectos da filosofia de Nietzsche que acentuem o modo peculiar como em seus últimos escritos ele se apropria da história passada, não tanto como um historiador, mas como um genealogista, tomando o relato histórico como parte de sua estratégia filosófica. Uma vez retomados os traços constitutivos desse modo de se apropriar dos acontecimentos passados, de se relacionar com eles de fazer a narrativa deles, avaliaremos a possibilidade da passagem de uma genealogia da cultura e da moral para uma genealogia de si. Um procedimento que ganha contornos ainda mais peculiares quando se considera, nele, a forte presença da assim chamada autoencenação filosófica do "Senhor Nietzsche". Tal análise do modo como Nietzsche compõe narrativas envolvendo o tempo passado, em especial quando esse passado diz respeito ao próprio filósofo, deverá permitir um estudo de Ecce homo que ultrapasse a expectativa por um relato de vivências passadas do autor, ao modo meramente descritivo, como faria a historiografia tradicional ou uma autobiografia em termos igualmente tradicionais, para toma-la na plenitude de seu estatuto filosófico, ao mesmo modo que os demais textos do filósofo, compostos nos mais variados estilos, e que são peças de uma crítica à cultura e à tradição filosófica ocidental. Uma crítica que ganha contornos inusitados, naquele texto de 1888, na medida em que é envolto pela moldura de uma narrativa de si para si, como uma encenação diante de um espelho no âmbito da qual, ou a partir da qual o filósofo pode abordar, de um ângulo único, conceitos centrais de sua filosofia como é o caso, por exemplo, do sujeito, dos valores e do ressentimento. A título de exemplo dos pressupostos a serem analisados, ganha relevo o paradoxo que compreende, por um lado a ideia de que o "passado nos alcança e reverbera em nós" (GM II 3) e que, porquanto, não pode ser desconsiderado pelo genealogista e, por outro, a ideia de que "nós não nos conhecemos" (GM Prefácio 1) o suficiente para relatar esse passado, além de que ao tentarmos fazê-lo, como um historiador, temos contra nós justamente a "evidência" (A 340), expondo coisas que "não existiram", "fatos! Sim, [mas] fatos fingidos!" (A 307).
Música e temporalidade em Nietzsche
Prof. Dr. Márcio José Silveira Lima (GEN/UFSB)
O interesse de Nietzsche pela música atravessa toda a sua obra. E um dos aspectos mais marcantes desse interesse é relação entre música e temporalidade. Uma prova disso é o fato de umas de suas Considerações Extemporâneas intitular-se Richard Wagner em Bayreuth, texto que aponta para as reflexões do filósofo sobre a importância da arte musical no confronto com sua época. Esta, aliás, é uma preocupação que já aparecia em seu primeiro livro O nascimento da tragédia, ainda que de outra perspectiva. Além desses dois escritos de sua produção inicial, Nietzsche vai dedicar muitos outros textos sobre a música, adotando diferentes posicionamentos quanto a essa relação com a temporalidade. O objetivo de nossa apresentação é mostrar as diferenças desses textos e o porquê delas.
Modernidade artística e décadence: o caso d' “O caso Wagner”
Prof. Dr. Fernando Barros (GEN/UFC)
Modernidade artística e décadence: o caso d’O caso Wagner Ao contrário do que se poderia supor, O caso Wagner, de Nietzsche, não se oferece à leitura apenas enquanto testemunho de uma relação pessoal ou relato biográfico. Valendo-se do célebre compositor como ensejo reflexivo e operador teórico de longo alcance, o filósofo alemão empreende, em tal escrito, aquilo que julga ser um diagnóstico fisiopsicológico da décadence artística, bem como uma crítica contundente da modernidade em geral. Ali, não toma a palavra somente um livre esteta musical, para deter-se exclusivamente no exame crítico de determinados princípios compositivos, mas um pensador que se define como “médico da civilização” - apto a lançar mão de sondagens genealógicas multifacetadas, únicas capazes de remeter o chamado wagnerianismo a processos mimético-formativos viscerais, ligados a forças instintivas e funções reguladoras corporais. Aliás, é à energia esteticamente organizada dessa base somática que se deve, para Nietzsche, a emergência do filisteísmo cultural de sua época, razão pela qual Wagner lhe interessa, sobretudo, como potência ético-moral, e não apenas como músico. Mas, com isso, é a relação entre música e instintos que termina por ser redimensionada, caracterizando-se, como tentaremos mostrar, pela interdependência. De acordo com o autor d’O caso Wagner, o material musical wagneriano é mediado por uma dietética pulsional especifica, a qual não se relaciona de modo simplesmente indireto com aquele que dele se põe à escuta, senão que sobre ele age e atua. E, de modo inverso, a experiência musical pode vir a alterar as relações entre as correntes de energia instintual, e, até certo ponto, recriá-las. Daí Nietzsche associar a luta contra o wagnerianismo a um processo de auto-superação de si, fazendo com que sua impetuosa condenação da modernidade artístico-cultural também não deixe de figurar, à sua maneira, como um momento de elevada positividade, no qual ele, ao interpelar criticamente um dado repertório de sons, acaba interpelando o sentido de seu próprio pensamento.
Um "homicídio nietzschiano". Reflexões sobre equívocos interpretativos na contemporaneidad
Prof. Dr. Stefano Buselatto (GEN/Unioeste)
“Nietzsche: tempo e história” significa também Nietzsche na nossa contemporaneidade: hoje ele é um dos filósofos mais conhecidos inclusive entre os não especialistas da filosofia. Se este dado significa a possibilidade de o pensamento nietzschiano operar em nossos dias com uma amplitude que poucos outros pensadores possuem, de outro lado, leva ao mesmo tempo para enormes e perigosos equívocos sobre o legado filosófico dele. A presente contribuição pretende, a partir de um fato de crônica recente, mostrar um exemplo desses graves equívocos e indicar, assim, a importância e a necessidade que o especialista nietzschiano dedique-se a corrigi-los.
A dimensão temporal na recepção de um pensamento: acerca dos filmes sobre Nietzsche de Júlio Bressane
Prof. Dr. Ivo da Silva Jr. (GEN/Unifesp)
Por meio da análise da recepção da filosofia de Nietzsche na filmografia de Júlio Bressane, em particular nos filmes voltados para o pensamento nietzschiano, tem-se por objetivo investigar os meandros dos deslocamentos temporais da recepção de um pensamento, notadamente, aqui, o de Nietzsche.
Genealogia como crítica em Nietzsche
Prof. Me. Romano Scroccaro Zattoni (UFPR)
O objetivo desta comunicação é apresentar uma interpretação acerca estatuto crítico do método genealógico de Nietzsche. Procuraremos abordar os seguintes elementos constitutivos desse método: em primeiro lugar realizaremos uma distinção entre a noção de história natural da moral, desenvolvida no capítulo V de Além de Bem e Mal, e de genealogia desenvolvido em sua obra Genealogia da Moral. Essa distinção se funda no fato de que, na obra de 1887, Nietzsche abandona uma narrativa histórica de cunho realista e passa a compreender esse exercício como signo de vontade de poder (GM II 12). Em segundo lugar, complementamos a argumentação anterior ao afirmar que o discurso genealógico possui caráter proeminentemente hipotético, que se acentua quanto mais se caminha retrospectivamente em direção à “origem” dos valores morais. Em terceiro lugar, realizaremos uma interpretação com relação à temporalidade do discurso genealógico. Por meio da evocação do conceito contemporâneo de futuro anterior, buscaremos afirmar que o discurso genealógico não tem como prerrogativa a referência à um passado objetivo (tal como se busca na historiografia clássica), mas se trata do estabelecimento de sentido que somente terá sido determinado com o advento da figura do leitor. Por último, abordaremos a questão do potencial crítico do método genealógico de Nietzsche a partir da insígnia da polêmica (subtítulo de Genealogia da Moral). Com isso, buscaremos compreender de que forma esse tipo de discurso se lança em um campo agonístico de interpretações acerca da origem dos valores morais, sem encerrar o debate por meio da sugestão de teses objetivamente definitivas, mas sim na busca de efeito crítico que compromete valorações de caráter “fraco” ou “décadent” (GM I 2), e abre caminho para a construção de novos valores por parte do leitor.
A presença de Auguste Comte em Friedrich Nietzsche: positivismo, altruísmo & sociologia
Prof. Me. Bruno Pereira Dutra (GEN/UFPel)
Três são os objetivos de nossa exposição, primeiro, pontuar a abordagem de Nietzsche à figura de Auguste Comte em seus dois sentidos, ou seja, explorar as motivações de seu elogio os motivos que levam a crítica do gênio e da obra (proposta) de Auguste Comte. Gostaríamos de explorar quais as direções que a abordagem de Nietzsche assume junto às noções comteanas mais centrais, a saber, as noções de Altruismo, Positivismo e Sociologia. Buscaremos mostrar a importância da figura de Auguste Comte como um antípoda e sua importância para a filosofia de Nietzsche, buscando captar a forma com que esse contribuiu de maneira central a crítica dos valores e o delineamento de uma moral niilista em Nietzsche. A partir daí, gostaríamos de analisar a presença da ideia de altruísmo em Nietzsche em relação a ideia de egoísmo ressaltando as implicações paradigmáticas que esta oposição promove na crítica aos valores de Nietzsche. Buscaremos a seguir, expor de que maneira a ideia de positivismo é tratada por Nietzsche traçando um paralelo com o paradigma Habermasiano de um positivismo nietzscheano, ideia especialmente tratada em seu livro ‘Conhecimento e Interesse’. Para Habermas, Nietzsche ao negar a problemática do sujeito transcedental, assume necessariamente uma postura positivista, o que gera uma aproximação junto aos hegelianos de esquerda pela via de uma crítica nominalista do cientificismo do sec. XIX, pela denuncia da neutralidade axiológica como sensualismo na teoria do conhecimento positivista e pela desconstrução da proposta sociologica comteana como desdobramento da moralidade cristã nas ciências; uma crítica epistemologica? A partir desse ponto cabe pensar se a crítica de Nietzsche pode ser interpretada como uma antisociologia puramente niilista ou se, de outro modo, Nietzsche pode servir a um reposicionamento teleológico, uma ‘teoria da gênese das formas de poder’ que suscita o debate acerca de um possível programa de pesquisa nietzscheano que se desenvolve a partir da perspectiva comteana.
O sentido histórico na filosofia do jovem Nietzsche
Prof. Me. Abraão Lincoln Ferreira Costa (GEN/Unioeste)
A Segunda Consideração Intempestiva: sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a Vida concentra-se na seguinte questão: afinal, qual seria o propósito da história para a vida? Tendo por base essa pergunta, Nietzsche assume a tarefa de denunciar em seu tempo o trabalho de historiadores e professores de filosofia, segundo ele presos as “falsas aplicações”, ou seja, incapazes de promover de maneira apropriada a articulação entre os grandes feitos do passado com as aspirações do presente. Por isso, a história como tratada pelo homem moderno restringe-se aos limites da superficialidade, tratando de antigos valores que somente inspiram respeito e saudosismo acerca de um passado sem nenhuma condição de orientar novas ações que sirvam de referência para o futuro. Desse modo, o presente trabalho propõe-se a aprofundar tais questões mostrando como superação a essa problemática a efetiva intervenção filosófica sobre o sentido histórico, capaz de postular novos sentidos, recriando conceitos capazes de interagir com as necessidades do tempo atual.
Breves considerações sobre Sofrimento e História no último Nietzsche
Prof. Hailton Felipe Guiomarino (UFPR)
Com a epígrafe "Dioniso contra o Crucificado", Nietzsche condensa uma profunda discussão acerca do problema do sentido do sofrimento, conforme anotação do FP 14 [89], da primavera de 1888. Considerando como enigma o simbolismo que Nietzsche atribui às divindades contrapostas, vê-se que sua decifração se desdobra em numerosos aspectos do pensamento do filósofo, dentre os quais o embate entre a sistemática falsificação da história sob o domínio dos valores morais e sua utilização genealógica como crítica desses valores. Neste trabalho, pretende-se esboçar algumas notas a respeito de como diferentes interpretações do sofrimento, implicadas na epígrafe citada, implicam distintas concepções da história. O Crucificado designa todos aqueles que, não podendo suportar e transfigurar o sofrimento, condenam o devir, culpando-o pelos aspectos dolorosos, contraditórios e terríveis da existência. Como consequência, erige-se uma concepção teleológica da história com o intuito de dar sentido ao devir como forma de compensação do sofrimento. Na contramão da culpabilização do devir, Dioniso implica numa concepção de história que não procura mascarar o sofrimento, mas afirma-lo como aspecto constitutivo dos grandes agenciamentos humanos (GM II, 6; ABM §229), na medida em que reflete o incessante movimento de destruição e criação do devir. Ver-se-á, aqui, como o pathos dionisíaco da comicidade caracteriza a escrita da história enquanto genealogia (GM, prólogo, 7), marcando-a com o riso que aponta para criação dos valores e não para uma origem divina; com a recusa na busca de um sentido transcendente; com a descontinuidade; e com a violência originária dos acontecimentos.
A temporalidade de um extemporâneo: tempo intensificado
Prof. Me. Saulo Krieger (GEN/Unifesp)
A comunicação pretende tematizar e trazer à luz não o tempo ou a relação com o tempo que o filósofo tematiza, e sim a sua contraface, ou seja, o tempo não histórico e vivenciado com base no qual ele nos fala. Para tanto, vai-se abordar, ao modo de coordenadas, sua relação (1) com o espaço – o Nietzsche viandante –; (2) com o vir-a-ser – Nietzsche-Heráclito –; (3) com o embate entre esquecimento e memória. Ao final, pretende-se chegar a uma concepção de tempo protagonizado que já não é nem o tempo cronológico e teleológico, tampouco o impossível retorno à saudável memória animal.
O domínio do kairós e o bestiário de Zaratustra
Prof. Dr. Gustavo Bezerra Costa (UECE)
Pretende-se com este trabalho apresentar e discutir aspectos relacionados ao bestiário contido em Assim falou Zaratustra – particularmente, com relação àquilo que representa a serpente no contexto dessa obra de Nietzsche. Como se procura defender, na medida em que representa a astúcia ou prudência [Klugheit], a serpente – uma das companheiras da solidão de Zaratustra, ao lado da águia – acaba por conduzir a outro bestiário, também familiar a Nietzsche. Primando pelas formas de inteligência astuciosa nomeadas pela deusa Mêtis, os gregos distinguiam entre duas formas de engano: a efemeridade, representada pelo camaleão, sempre refém do inexorável acaso, e a politropia, simbolizada pelo polvo, que se molda aos acasos apenas para exercer aí o domínio do kairós, do tempo oportuno à ação. E é a essa última característica que parece remeter a serpente de Zaratustra, na medida em que aponta para o valor do instante como decisão, isto é, como momento oportuno à afirmação do eterno retorno e superação do niilismo.
A história nietzscheana como exercício filosófico: Maquiavel contra Platão
Prof. Dr. Gianfranco Ferraro (Universidade Nova de Lisboa)
Se para Tucidides, assim como para Maquiavel, a escrita histórica nasce da necessidade de retirar os actos dos homens da sombra e da poeira à qual eles estariam condenados, a meditação sobre a história ocupa um papel central no curso do pensamento de Nietzsche. A partir da Segunda Intempestiva sobre as "Vantagens e desvantagens da história para a vida" o interesse de Nietzsche pela história cruza sempre a necessidade de uma verificação da importância do "fazer história" para a experiência da actualidade e para a construção das condições de uma humanidade alheia à metafísica. Neste sentido, a leitura dos problemas históricos da parte de Nietzsche, com a atenção ao tema da "duração", pertence sem dúvida à sua própria experiência filosófica, até ao momento em que o filósofo alemão, com o eterno retorno, chega até a pôr em causa as próprias condições de uma história linear e progressiva, característica da história messiânica da época cristã, com as consequências éticas e ontológicas que tal desenvolve relativamente à forma de existência ocidental na época da decadência.
Transfigurações do passado: aspectos do problema do tempo na II Consideração extemporânea
Prof. Dr. Eduardo Nasser (GEN/UFABC)
A segunda Consideração Extemporânea foi acolhida no cenário filosófico contemporâneo como uma obra singular do pensamento nietzschiano que serve de marco na transição do tempo abstrato para o tempo vivido; sua maior virtude teria sido evidenciar o futuro enquanto um modo temporal dominante na existência humana. Contudo, pretendo mostrar que, nesse livro, Nietzsche está na verdade interessado em combater os efeitos devastadores da percepção do tempo para o homem – um problema que já o perseguia –, encontrando, para tanto, recursos preciosos numa apropriação valorativa da história.
Breves considerações de Nietzsche sobre a história
Prof. Dr. José Nicolao Julião (UFRRJ)
Pretendemos com este ensaio fazer uma abordagem geral acerca das considerações de Nietzsche sobre a história, levando em conta, os três conceitos ou questões mais fundamentais que envolvem o tema na obra do filósofo, a saber: sentido histórico, niilismo e genealogia. No que concerne à primeira questão, tentaremos demonstrar como os seus textos mais remotos, do período da sua formação, nos possibilitam compreender o uso criativo que ele já fazia da história e da filologia naquele momento. Ainda referente ao tema do sentido histórico, nas fases intermediária e madura do processo do desenvolvimento intelectual de Nietzsche, queremos evidenciar aspectos positivos - sem negligenciar os negativos também - que envolvem o tema como instrumento crítico que desprende o homem da tradição e lhe confere autonomia, assim, como o fortalece enquanto somas de vivências, principalmente, na segunda fase. Na última fase do pensamento nietzschiano, a questão do sentido histórico se envolve com o tema mais abrangente da genealogia. No que concerne à questão do niilismo, pretendemos abordar como Nietzsche, em posse do conceito, estabelece uma noção mais ampliada e mais bem elaborada da sua concepção de história. No entanto, nós não nos deteremos diretamente sobre tema, mas apenas em sua relação de proximidade com o sentido histórico e a genealogia. Sobre a última questão, dentro de uma compreensão de unidade, continuidade e sentido da obra nietzschiana como um todo, vemos como, Nietzsche em suas obras genealógicas - PBM e GM – elabora o seu mais ambicioso e completo projeto filosófico, e nele, estão reunidas todas as suas considerações sobre a história – sentido histórico e niilismo - sob a insígnia da genealogia.
Notas sobre a segunda Extemporânea
Prof. Dr. André Luis Mota Itaparica (GEN/UFRB)
A segunda consideração extemporânea, Sobre a utilidade e a desvantagem da história para a vida, é um texto que possui uma série de características estilísticas e argumentativas que acaba por obnubilar o tema central e a unidade da obra. Estas notas procuram recuperar esse sentido de unidade do livro, a partir do problema que o estimula, no contexto do projeto das extemporâneas, a saber, a crítica da cultura. Assim, a questão da historicidade como fundamento antropológico será articulada com as consequências do excesso do sentido histórico, que ocupam a maior parte do livro e que, por motivos em grande medida justificáveis, receberam menos atenção da bibliografia secundária.
Nietzsche, perspectivismo e democracia: um espírito livre em guerra contra o
dogmatismo
Prof. Dr. Fernando Costa Mattos (UFABC)
No intuito de discuti-la com os membros do GEN e o público em geral, pretendo apresentar os principais argumentos de meu livro "Nietzsche, perspectivismo e democracia: um espírito livre em guerra contra o dogmatismo" (Saraiva, 2013), com maior ênfase na "antinomia" que identifico, no pensamento nietzschiano, entre a cosmologia da vontade de potência (fundamentalmente descritiva) e o discurso propositivo centrado em noções como "espírito livre", "superação de si" e "além-do-homem". A saída que proponho para essa "antinomia" consiste em adotar a estratégia do "duplo ponto de vista", de inspiração kantiana, para compatibilizar essas duas perspectivas aparentemente antagônicas (cosmologia descritiva x ideais propositivos).
O eterno retorno do mesmo, o tempo e a história
Profa. Dra. Scarlett Marton (GEN/USP)
Tomando como ponto de partida a análise das diferentes formulações do pensamento do eterno retorno do mesmo na obra publicada e nas anotações póstumas de Nietzsche, contamos examinar as concepções de tempo e de história que nele se acham implicadas. Pretendemos, em seguida, avaliar em que medida essas concepções compõem um todo harmonioso no contexto da filosofia nietzschiana. Esperamos, por fim, defender a tese de que o pensamento do eterno retorno é parte integrante de um projeto filosófico que persegue o propósito de ultrapassar a modernidade.